segunda-feira, 18 de julho de 2011

Arte: reflexo do real (?)

Sou uma apaixonada por todas as formas de arte. Essa paixão avassaladora foi construída no mesmo instante em que percebi que a arte é a expressão subjetiva de como o sujeito apreende o coletivo. Às vezes, uma "insignificante" descrição do real é o suficiente para provocar uma nova forma de pensar sobre determinada realidade.

A arte é práxis. Como práxis pode ser reacionária ou transformadora. E essa perspectiva de compreender a arte elimina o argumento que coloca a arte como uma "entidade" que paira sobre o mundo real. ISSO NÃO EXISTE!

Certa vez ouvi dizer que "num regime autoritário, as diferentes manifestações artísticas serão as primeiras a serem reprimidas"; e isso não acontece por um acaso. A arte é livre. Tentar aprisioná-la é como privar um pássaro de sua liberdade. E para que serve um passarinho na gaiola? Bem, enquanto se está na gaiola, ele agrada somente àquele que o prendeu e àqueles que têm oportunidade de compartilhar da mesma visão do "dono" do pássaro.

Assim acontece com a arte. O artista é livre para criar, para se expressar. Sem imposição de limites, de padrões, de moralidade. A arte ridiculariza, ironiza, questiona, INCOMODA! Aquilo que é insosso não acrescenta nada à realidade; não seria essa a intenção de "aprisionar um pássaro na gaiola"? (...)

Outro ponto importante que precisa ser destacado é que não tem como desvincular a arte das demais áreas de conhecimento (filosofia, política etc.). NÓS somos seres sociais e políticos, e, portanto, todas as nossas escolhas implicam num direcionamento político, ético. As nossas percepções e interpretações, aquilo que priorizamos e o que descartamos, tudo é construído social, política e historicamente. Somos, na verdade, produto de uma macro realidade. Isto quer dizer que, a arte, a política, a filosofia, a economia... Todas as áreas de conhecimento se entrelaçam. Fragmentar o pensamento é servir à mediocridade, é ser muito ingênuo, é ser muito passivo.

Admiro os artistas que ousam; os artistas que não se preocupam com estéticas padrões. Agradam-me (ainda que eu discorde) os que produzem pensamentos, os que têm coragem de imprimir sua opinião em suas obras/produções/criações.

Felizes são os promíscuos, loucos, desviados e afins. Esses sim acrescentam algo à humanidade.
E, por favor, continuem produzindo. O mundo está carente de loucura!

"Eu não gosto do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos,
Não gosto!

[...]

Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem!"

(Senhas, Adriana Calcanhoto)



quarta-feira, 13 de julho de 2011

PORRA, qual o problema?

Bem, pessoal, muitas pessoas me pediam, há um tempo atrás, para eu sistematizar meu pensamento sociolinguista no que concerne ao uso do "palavrão". Antes de começar a expressar o que penso sobre a temática, quero lhes fazer um questionamento:

Por que "buceta" é palavrão e "vagina" não se ambas as palavras são utilizadas com o mesmo sentido?

Sei que esta postagem vai causar polêmica. No entanto, esse é o objetivo deste blog.

Não há outra explicação para esse fenômeno que não seja social. O "palavrão", da forma como o conhecemos, é uma linguagem construída e utilizada pelas classes subalternas. Isto é, a ideia de "linguagem limpa" está relacionada à posição social que o sujeito ocupa.

Ora, se esta linguagem emerge de uma classe que não seja a da elite, logo, ela não pode ser legitimada. Até porque, dar voz às classes subalternas (ou seja, a grande massa populacional brasileira) implicaria numa possível ameaça ao poder destas elites. Então, o que deve ser feito é ridicularizar e tornar vulgar tudo aquilo que for culturalmente produzido pelas massas. É uma forma de manter seu poder soberano.

Bem, é verdade também que o palavrão só é mal visto se for utilizado por algum sujeito das classes subalternizadas, pois, se for falado por algum importante teórico, cientista, rico, passa despercebido. Não tem problema. Ele sabe demais. Estúpida esta lógica! Todavia, infelizmente, é o que acontece.

Falo palavrão sim! Como uma forma de protesto. Sou a favor de uma linguagem popular e acessível. Sou a favor de uma efetiva liberdade de expressão. Quero universalizar direitos! Quero universalizar acessos! 

A linguagem é produto histórico, social e cultural, e não divino!

Trazendo um pouco de humor para pensar a questão da hipocrisia que está embutida na proibição moral do uso do palavrão, eis o "Nós na Fita":


Vale a pena conferir! Além de divertido, muito crítico!

Uma singela homenagem às "Pagus"

Pagu, nascida em 09 de junho de 1910, foi uma mulher à frente da sua época. Estigmatizada por sua forma irreverente de se portar diante a sociedade de sua época (por conta de seu vocabulário, sua forma de vestir e seu comportamento "inadequado"), Pagu é um belo exemplo de "mulher ao avesso". Estava sempre questionando o modelo social machista e sexista (que perdura até hoje), trazendo contribuições para se pensar a relação de gênero.

Por que existem padrões comportamentais? Qual a intenção de se criar convenções morais? Qual o sentido disso senão controlar?

A intenção é provocar o pensamento. Refletir sobre o que é ser mulher na sociedade contemporânea. Será que, ainda hoje, conseguimos identificar traços arcaicos de formação social? Não tem nada de errado nisso?

Para mim, TEM. Infelizmente nós, mulheres, ainda sofremos uma série de preconceitos pelo simples fato de sermos do sexo feminino. Isso está expresso nos salários (que, em alguns casos, são mais baixos que os dos homens), nas características que nos são atribuídas por lutarmos pela liberdade sexual (piranha, galinha, vadia, cachorra), nas piadinhas de mau gosto (como a feita por um estúpido deputado durante a propaganda eleitoral: mulher precisa de terapia... Ter a pia cheia de louça para lavar) etc.

É importante lembrar que não podemos cair num extremismo: não defendemos as "Amélias", tampouco as "Mulheres-Fruta", já que ambas demonstram um comportamento pautado na idealização machista do que é ser mulher. A luta é política, ideológica. Queremos igualdade de direitos.

"Mulheres de todo o mundo, uni-vos!" 

O que é prioridade para você?


terça-feira, 12 de julho de 2011

Mulher ao Avesso: por quê?

Certamente o título deste blog deve ter-lhe despertado uma certa curiosidade. Por que alguém se classificaria como uma "mulher ao avesso"? Então, para maiores esclarecimentos, dedico minha primeira postagem à explicação do nome do blog.

Primeiro, a escolha deste título descreve minha personalidade. Sou uma mulher que foge aos padrões machistas desta sociedade. Isto significa que, enquanto muitas mulheres reproduzem discursos que diminuem, simbolicamente, seu papel enquanto sujeitos ativos na produção e reprodução das relações sociais, eu (e muitas outras) caminhamos na contra-mão deste processo. Acreditamos que todos os padrões morais CRIADOS em diferentes momentos históricos têm a função de controlar as massas, de forma que cada vez mais indivíduos estejam às margens  do processo de construção histórica. Portanto, meu comportamento é subversivo do ponto de vista machista e reacionário, no entanto, do ponto de vista revolucionário, minhas características são, no mínimo, inovadoras.

Em segundo lugar, o título também revela meu direcionamento político. Acredito que a transformação pode ocorrer ainda que nos pequenos espaços de vida social ("aparelhos privados de hegemonia", como conceitua Gramsci), para uma posterior mudança macro social. Sou contra o conhecimento baseado no senso comum. Gosto de conhecimento construído a partir de uma realidade concreta. E, como poucos compartilham desta ideia, sou, por conseguinte, uma MULHER AO AVESSO.

É isso aí, pessoal, acho que, de uma forma geral, consegui dar algumas dicas sobre o conteúdo deste blog. Postarei meus pensamentos sobre todos os assuntos que me despertarem o interesse, contudo, sob uma nova perspectiva, uma nova forma de enxergar e interpretar o mundo.

Ah, e para entender melhor o recado, nada melhor que "Pagu" para explicar:


Espero que tenham gostado, e, até a próxima!