Sou uma apaixonada por todas as formas de arte. Essa paixão avassaladora foi construída no mesmo instante em que percebi que a arte é a expressão subjetiva de como o sujeito apreende o coletivo. Às vezes, uma "insignificante" descrição do real é o suficiente para provocar uma nova forma de pensar sobre determinada realidade.
A arte é práxis. Como práxis pode ser reacionária ou transformadora. E essa perspectiva de compreender a arte elimina o argumento que coloca a arte como uma "entidade" que paira sobre o mundo real. ISSO NÃO EXISTE!
Certa vez ouvi dizer que "num regime autoritário, as diferentes manifestações artísticas serão as primeiras a serem reprimidas"; e isso não acontece por um acaso. A arte é livre. Tentar aprisioná-la é como privar um pássaro de sua liberdade. E para que serve um passarinho na gaiola? Bem, enquanto se está na gaiola, ele agrada somente àquele que o prendeu e àqueles que têm oportunidade de compartilhar da mesma visão do "dono" do pássaro.
Assim acontece com a arte. O artista é livre para criar, para se expressar. Sem imposição de limites, de padrões, de moralidade. A arte ridiculariza, ironiza, questiona, INCOMODA! Aquilo que é insosso não acrescenta nada à realidade; não seria essa a intenção de "aprisionar um pássaro na gaiola"? (...)
Outro ponto importante que precisa ser destacado é que não tem como desvincular a arte das demais áreas de conhecimento (filosofia, política etc.). NÓS somos seres sociais e políticos, e, portanto, todas as nossas escolhas implicam num direcionamento político, ético. As nossas percepções e interpretações, aquilo que priorizamos e o que descartamos, tudo é construído social, política e historicamente. Somos, na verdade, produto de uma macro realidade. Isto quer dizer que, a arte, a política, a filosofia, a economia... Todas as áreas de conhecimento se entrelaçam. Fragmentar o pensamento é servir à mediocridade, é ser muito ingênuo, é ser muito passivo.
Admiro os artistas que ousam; os artistas que não se preocupam com estéticas padrões. Agradam-me (ainda que eu discorde) os que produzem pensamentos, os que têm coragem de imprimir sua opinião em suas obras/produções/criações.
Felizes são os promíscuos, loucos, desviados e afins. Esses sim acrescentam algo à humanidade.
E, por favor, continuem produzindo. O mundo está carente de loucura!
"Eu não gosto do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos,
Não gosto!
[...]
Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem!"
(Senhas, Adriana Calcanhoto)